segunda-feira, 29 de agosto de 2011

"Não é fácil ser um cabelo"

Abri um de meus diários, ontem, e encontrei o rascunho de uma atividade da disciplina Criatividade, em que teríamos que escrever um texto sobre 'cabelo', sob orientação do professor Nick Passos, que adoro =)
Segue:


“Oi. Eu vou ser direto e objetivo, porque preciso desabafar: sou um cabelo frustrado.


            Tive o azar de pertencer à espécie mais desprezada, principalmente porque nasci numa mulher. Me acho uma graça, mas a Madalena, a garota onde eu moro, e imagina onde? Ai, ok… vou falar de vez: eu sou um fio de cabelo do buço! Pronto, falei.
Eu não tenho vergonha de ser o que sou, sabe…mas a Madalena morre se me enxergarem. E o pior é que sou tão singelo, tão pequenininho e praticamente imperceptível, mas pra ela não, pra ela eu sou um imenso bigode!
Nem sempre foi assim…
Quando a Madalena tinha quatro aninhos, eu e os meus fios vizinhos segurávamos o leite conosco só para vê-la feliz com o “bigodinho”. Que ironia, meu Deus!
Com 12 anos, lá estava eu num momento muitíssimo importante na vida dela: o primeiro beijo. Marquinhos, era o nome do sortudo. Madalena eu acho que adorou a experiência; eu odiei, porque além de quase me afogar na baba dos dois, o garoto tinha aquele projeto de bigode ridículo que ficava se roçando em mim! Nunca gostei dessas intimidades…
Lembrando assim do passado, eu vejo que vivi 15 anos bastante feliz. Só que quando a Madá fez 16…iiiiiihhhhh!
Foi tudo culpa da Luisa,  a amiga chata dela, nunca fui com a cara. As duas estavam indo pro São João da Escola e eu fui com Madalena dormir na casa da outra. Dá pra acreditar que ela pôs a Madá contra mim, por causa de uma piadinha?
-Ô Madalena…tudo bem que é festa de São João, mas você vai de caipira mulher. Não precisava do bigode.
Ridícula. Ridícula, ridícula, ridícula. Foi aí que começou o pesadelo. Madalena estava linda, uma bonequinha. Aliás, ela sempre era assim: magra, sorridente, cabelos pretos. Este último item é que a matava de ódio. Por quê? Simples. Não que ela não gostasse de seu cabelo. É que se o cabelo era preto, a sobrancelha também era, os fios das pernas também, e…o buço.
Ela queria ser como a Luisa, que, de tão loirinha, tinha vários pelinhos louros pelo rosto, e os dela eram um charme, “não esse bigode horrível aqui”, foi o que ela disse.
Ai, céus! Pra piorar a situação, novamente a sanguinária Luisa deu para a Madá um instrumento de tortura  como presente:uma pinça! Agradeço a Deus que ela era meio canguinha e não deu uma termocêra. Uffa.
A primeira pinçada me pegou e me cortou, mas não arrancou minha raiz. E foi assim que eu fui conesguindo me manter por aqui: sempre escondido, sempre solitário.

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