quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Poesia se paga com poesia

[Texto que escrevi em resposta a este...;)]


"Espera. Aguarda que o meu silêncio há de cessar. Você gosta de textos com pontos, não é? Ritmados, pausados. As pausas me agradam, também. A mão não consegue acompanhar a velocidade dos nossos pensamentos, que, como luz, chegam e se vão, num piscar. É preciso algo de desordem. Algo que me permita inserir, onde não parece se encaixar, o vento que está invadindo o meu quarto; a chuva que lembra o comentário sobre o beijo na TV do Amarelinho; o sussurro ao pé do ouvido, como se a gente precisasse de protocolo pra se aproximar.



Sorriu. Bebeu. Cansou, Desconversou. Leu. Escreveu. Dormiu...e abriu os olhos no escuro para me ver no balcão, a destilar minhas concepções - ou o meu mandato - numa folha de papel. Numa folha rasgada de papel.
O sono chegando, a noite indo embora, o silêncio tomando o seu lugar na casa, mas não conosco, porque as almas precisavam de resposta. A minha alma precisava entender, contestar, abrir o jogo. Falar a verdade.


[...]


Tem som de caixinha de música. Tem som de décadas atrás, de terminais de trem e de olhos. Não deve fazer sentido. É da música que escuto exatamente agora. Não tem valor. Ou tem? Talvez o maior que possa existir: os detalhes da cena em que me encontro agora, pensando em você, escrevendo pra você, num rascunho nas páginas do meu novo diário. Num papel em que ficará escrito para sempre, guardado bem seguro ao lado de todas as folhas do meu passado, de quem sou e de quem fui. Significa. Significa muito.



Não há tardes como esta, com silêncio e som? Com chuva batendo na janela, com notas martelando no piano, na canção? Chão branco, livros espalhados, cansaço. E uma fixação: a resposta. Fica?
Poucas pessoas recebem convites tão delicados e encantadores como o que você me fez. Porque você é raro. Envolvente. Destemido. E observador. no instante que cala, fotografa. E fez o texto mais lindo que eu poderia receber agora. Não porque fossem frases perfeitas. Ou bonitas. Mas pelo significado. Das caretas que fiz pras suas fotos achando que você não estava me olhando. Da chuva. Do mar. Do meu passado.



Mas...a verdade.Novamente. Ela é necessária. Eu não quero nada que não seja meu, nada que não deva ser meu. Nada que seja feito com um fim, com o propósito de agradar. Então, é a única coisa que, no momento, te peço.


Às vezes me perco nos seus devaneios, nos teus códigos e mistérios. E me pego tentando calcular quantas vezes mais você pronunciou aqueles códigos - ou a quantos mais.
Peço-te verdade, e é o que te darei também. Sem culpa e sem pressa. Sem sentimentos ou carinhos forçados, sem peso na consciência. Com respeito. Com calma. Ou com raiva, mas sempre verdadeiro.



Sem cobranças. Sem inventar, sem recriar, sem mentir.
E sem comparações. Carinho, sem receber nada que não seja meu, sem te dar nada que não seja seu.
Apenas sem o pé atrás, sem o medo de dar errado. Ou com o medo, mas, ainda assim, seguindo em frente.
De uma coisa que, pra mim, não é pele, não é ofegar, não é o toque. Mas é o riso, a lágrima, o coração batendo forte, papéis, canetas e o fundo da alma.


Eu desejo as mãos dadas, o bilhete ao lado da cama e o café-da-manhã. E como desejo o café-da-manhã! O raiar do dia com vento, fumaça do fogão, aromas, leite, olhos cansados, sorrisos, dois. Abraços, carinhos, um novo dia. Mais um começo, o apoio, o companheirismo, a fé no que há de vir. Sem ausência, sem sentir falta. Com a certeza de querer estar exatamente ali.



Não como dois corações remendados, que foram machucados e se compreendem, mas como dois corações que se queiram. Isso tudo pode não ser nosso, por isso peço que não haja promessas.
Que eu vou te falar o que sinto ou não, do que vejo, do que quiser falar. Com autenticidade, com sinceridade, com jeito de mulher ou loucura de menina, com carinho, com silêncio - ou com berros. Com presentes, passados e futuros. Com conversas, com música ou com gestos.
Com poesia."




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