quarta-feira, 22 de junho de 2011

Todo mês meus filhos morrem

“Ela afasta os cabelos do rosto e os prende atrás das orelhas, pronta para começar mais um dia. Mais andorinhas sobrevoam o parque, novas famílias circulam, dentre elas crianças, pai e avô.
Não demora muito a chegar no ateliê onde ela trabalha toda manhã, toda tarde, quase toda noite. Na frente há uma banca de revistas, e, volta e meia, Clara vê cartazes de Maire Claire, Manequim, Arquitetura & Construção – vendendo um mundo de beleza e felicidade. E o ateliê, então! Cheio das cores que ela não vê brilhar em sua vida pessoal.

E, se ao fim de cada pôr-do-sol ela derrama uma lágrima, não podem queixar-se: todo mês ela sente morrerem seus filhos, a cada ciclo menstrual, e é impossível conter a dor de ver as páginas de seu futuro ficarem transparentes e sumirem.
Cada nova lua é um indício de que a fertilidade foi em vão, e ela se vê cada vez mais longe da vida com a qual sonhou.
Como uma promessa que não foi cumprida.”

2 comentários:

  1. Num único episódio e em poucas palavras, você conseguiu a façanha de contar o Drama da personagem nesse curto e envolvente Romance.
    Excelente... Parabéns!

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  2. caramba,bonito isso. ficou tão dramático

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