terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Uma rua, uma janela, muitas histórias coexistindo.

Era sempre a mesma rua, vista da janela do quarto da minha mãe. É certo que o tempo a fez diferente: antes havia ali o resto de uma fazenda, um casarão onde havia muitas corujas, e, no pátio, uma crição de patos; havia um espaço grande, um matagal, antes da baian do acarajé começar a levantar a construção; as árvores do terreno em frente eram curtas; não havia quebra-molas no fim da ladeira; o topo do morro, com a torre da energia, era estranho e vazio - agora, vizinho ao residencial de 20 andares que tomou conta da casa de Zildo (vivia lá só uma família...e hoje, quantas vidas cabem ali?), é bonito e movimentado; não havia, de frente pro quarto, a casa linda que Clara arquitetou; pela rua inclinada, descia minha mãe, descia Dan, descia Ju, já moça; pela ladeira correram litros de chuva: assisti-os escorrer ao lado de Dan, de Laya, de mim mesma.

21 anos se passaram e é a mesma janela. Por onde eu via minha vida, fazia meus planos, conversava com Deus...foi por essa janela que eu olhei pro céu quando, numa madrugada, acordei, sentindo que vovô ficaria distante por mais um tempo. Frente a esta janela eu pedia a Deus que Alan chegasse ileso em Ilhéus; mentalizei cada volta às aulas nos tempos de escola; pedi a Deus pelo incerto de me mandar pra Aracaju, e continuo, a cada volta para casa, olhando pela mesma janela. Sinto que ela esteve presente em cada meta, conquista, batalha, medo ou esperança. A sinto, até, como parte de mim.


Hoje, olhei pela janela e pedi que eu consiga voar. Que não cortem minhas asas.
Que eu sempre volto pra cá: meu cantinho, minha casa, meu lar, meu verdadeiro lugar.
Hoje, também, agradeci pelo presente de ontem. Pedi força, empenho, gás, vontade, brilho nos olhos para honrar a conquista. Pedi proteção e saúde para os meus amigos, e, sobretudo, para a minha família.





[Escrevi este texto dois dias antes de acabar 2011. Comecei 2012 me sentindo muito bem.]

Um comentário:

  1. Sempre gostei de tirar um tempo de meu dia, nos lugares que estava,e ficar na janela,olhando as coisas,pessoas passarem. Olhar pro mesmo canto,as vezes todos os dias e ver como as coisas mudavam,mas algo sempre continuaria ali,sempre teria alguma lembrança praquele canto ser sempre ele e ficar na memória

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