sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Fica?


Me segurei por muito tempo para não dividir essa poesia com o mundo. Hoje, me escapou. Não é minha, recebi tempos atrás, numa quarta-feira antes do meio dia que ficou perdida no tempo.




Te liguei para pedir para você ficar. Fica? Fica por mensagem de texto, por e-mail, por um recado gravado, por um bilhete, por uma carta. Fica pelo telefonema não atendido, pela minha cara emburrada, pelas minhas manias bobas, exageradas, desesperadas. Fica pela dorzinha no meu estômago, pelas minhas mão trêmulas, pelo meu coração acelerado. Fica pelo meus olhos, pelo perfume no bolso da bolsa, pela imaginação. Fica pelas mordidas, pelo papo ao pé do ouvido, pela mania de te adiar, de não deixar você ir, te segurar. Fica aqui. Fica com seu sotaque, seus enigmas, suas segundas, terceiras e quartas intenções. Fica com sua loucura, com seu jeito de sorrir da minha seriedade, de dar risada na cara do meu bico. Fica sem saber que quer ficar, mas fica ainda assim. Fica com seu passado, seus outros caras, seu tempo livre, sua liberdade, seu sumiço. Fica com sua solidão, com sua praia, com seu mar.


Fica com seu cheiro doce, com sua pele macia, com seus cabelos loucos e desvairados. Fica com seus olhos transparentes, com seu meneio de cabeça, com sua língua de fora. Fica com seu desejo de mulher, com sua pegada, com seu jeito de não estar nem aí. Fica com sua gargalhada, com seus olhos enlouquecidos, com suas mordidas.


Fica e eu te escrevo o texto mais bonito, a poesia mas linda, a mensagem mais boba. Fica e eu te dou boa noite todo dia, com raiva, com paixão, com carinho, com mal gosto, mas todo dia. Fica e eu rezo pra você antes de dormir, peço pela sua felicidade, peço pelo seu sucesso, pelo seu encontro. Fica e eu te compro chocolate, bebo da sua água, como do seu pão. Fica e eu caminho ao seu lado, seguro sua mão, cego todos os outros homens. Fica e eu sinto ciúmes da sua beleza democrática, das suas coxas nuas, do seu decote. Fica e eu te aperto, te abraço, te levo comigo para onde não sei que estou indo. Fica e vai ter chuva. Fica e vai ter onda. Fica e vai ter cinema.
Fica e eu como maçã, goiaba e tomo café. Fica e eu te busco um casaco, uma sandália, um pouco de fé. Fica e eu vou para praia, bebo para dançar com você, corro para te segurar. Fica e eu escovo os dentes para falar com você no celular, faço a barba, corto o cabelo. Fica e eu fico também.


Fica que eu te ajudo a suportar, a esquecer, a caminhar. Fica e me escolhe, me destaca, me abraça. Fica e me traz outra vez as minhas verdades, os meus medos, os meus anseios, as minhas crenças. Fica e eu volto a acreditar, volto a sonhar, volto a permitir. Fica no banco do ônibus, na cadeira do açaí, no gosto da tapioca. Fica de mulher, de menina, de luz. Fica transvestida de motorista, de jornalista, de guia turística, de piloto, cozinheira, mas fica. Fica rápido!


Fica e não liga para o calor. Fica e desliga o relógio para esquecer. Fica sem roupa, sem protetor, sem sandália. Fica sem medo, sem preocupação, sem questionamento. Fica e eu te coloco na frente, deixo você sentar na janela, dou o lado da parede na cama. Fica sem avisar, sem contratos, sem expectativas ou previsões. Só fica. Fica e esquece o dinheiro, a conta, o saldo bancário. Fica que eu deixo, fica que eu quero. Fica urgentemente. Fica intensamente. 


Ligeiramente. Fica?

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